sábado, 22 de outubro de 2011

Amor, perda e superação..Gente que Lição de Vida.

Ela viveu um conto de fadas com um príncipe encantado. Mas um carro desgovernado esfacelou sonhos, levou embora seu amor, mudou a realidade. Conheça a história de Beth Amorim.



A dor da ausência

Os primeiros dias sem ele foram terríveis. A rotina foi completamente modificada. Vivíamos grudados o tempo todo. E agora, sem ele, o vazio se instalava. As lágrimas eram constantes, principalmente quando eu olhava o lugar vago ao meu lado na cama, na hora de dormir. A comida perdeu o gosto. A vida perdeu a cor. Estava tudo cinza. Minha vida era só tristeza e dor.

Com a morte de Andinho, me senti acaba, destruída, infeliz, desamparada, sozinha. Achei, naquela época, que nunca mais conseguiria sorrir novamente. Acreditei que seria para sempre uma pessoa chorosa, melancólica e a um passo da depressão.

Para aliviar a dor eu escrevia. Passava horas e horas escrevendo textos e mais textos em meu blog. As pessoas passavam por lá, ficavam solidárias, deixavam comentários, e aquilo, de certa forma, ia me fortalecendo um pouco. Depois de uma semana, comecei a trabalhar novamente e isso me ajudou mais ainda. Era uma forma saudável de me distrair. Assim fui aos poucos tentando colocar a vida para seguir.

Ao completar um mês, a esperança de acordar do pesadelo, foi ficando menor a cada dia. Começou a ficar mais difícil pensar nele, olhar uma foto, falar sobre nós dois ou visitar seu túmulo sem derramar lágrimas de dor, desgosto, saudade. No início, por incrível que pareça, eu fazia tudo isso de forma mais tranquila. Depois de um mês, foi ficando mais complicado. Parece que a realidade do que acontecera ficava cada vez mais evidente. No entanto, eu tinha consciência de que não poderia ser daquela forma.

Conversei comigo mesma e decidi que era hora de reagir. Afinal, minha vida continuava. A reviravolta aconteceu quando, perto de completar dois meses de sua morte, percebi que de nada adiantaria ficar assim. Foi uma perda irreparável? Sem dúvida. Dolorosa? Demais! Porém, apesar de não me acostumar com a situação, decidi que poderia superar isso tudo.

Por isso, resolvi que tinha que parar de ficar sofrendo por algo que eu nada mais poderia fazer. Não, eu não iria trazer Andinho de volta com todo aquele sofrimento. Então, vi que se eu passasse muito tempo "curtindo" e prolongando a dor, poderia chegar ao ponto de eu me acostumar com ela... E assim, aquela Beth risonha, alegre, cheia de ideias e de bem com a vida que todos conheciam, deixaria de existir. Para sempre.

A superação

Renasci. Ressurgi. Assim como já tive que fazer algumas vezes nesses 30 anos de vida (embora nenhuma vez tenha sido tão difícil e dolorosa quanto essa), comecei a aceitar convites de amigos e amigas para sair, ir aos barzinhos, a restaurantes e até festas. Entendi que ficar em casa só ia piorar meu estado. Eu precisava de distração.

Mas eu sabia que, mesmo em meio à distração, a dor continuava ali, e bastava eu dar uma bobeira, que ela retornaria com força total. Perdi as contas de quantas vezes, no meio de uma festa ou de qualquer lugar onde eu estivesse, tive que segurar as lágrimas ou correr para o banheiro por ter escutado uma música, visto casais de amigos que saíam com a gente, ter reparado na cadeira vazia ao meu lado, ter tocado num assunto que ele gostava, ter sentido em alguém o perfume que ele usava.

É difícil conviver com a ausência. Muito difícil mesmo. Estou tentando superar. Mas, ao contrário do que muitos pensam, claro que não superei completamente. E nem sei se vou. No entanto, durante esses quase quatro meses, não deixei de tentar um só dia.

Às vezes acho que é questão de saber disfarçar, camuflar, esconder ou, até quem sabe, fingir. Não sei. Acho estranho porque eu não sei fazer essas coisas. Não sei disfarçar, nem fingir. Muito menos esconder o que sinto. Mas, vez ou outra, quando a dor chega bem forte, sem que eu espere, fico imaginado: como posso sorrir mesmo sabendo o que aconteceu? Como posso ter força para seguir em frente sabendo que uma parte de mim se foi com ele? Quando paro para pensar nisso, lembro que a dor sempre esteve aqui. Daí me pergunto: onde ela "se esconde" na hora em que eu consigo sorrir?

Quando eu penso que as lágrimas já se esgotaram, uma nova (e grande) remessa delas caem dos meus olhos. Queria entender porque é assim. Do nada um pensamento me vem à mente e instantaneamente começo a chorar. E momentos assim podem acontecer em qualquer lugar: assistindo à TV, lendo um livro, vendo fotos de casais, abrindo minha caixa de e-mails, na hora do banho.

São crises agudas de saudade, aquela dor bem fininha que vem esmagando o peito, tirando meu ar. As lembranças boas não são capazes de conter minha tristeza em dias assim. Nada me faz esquecê-lo por uma hora que seja. Se fecho meus olhos por um segundo, lá me vem a imagem do meu Bb.

A vida que segue

Fico pensando como estou conseguindo enfrentar essa separação involuntária. São quase 120 dias sem vê-lo, sem tocá-lo, sem ouvir sua voz, sem receber seus carinhos, sem sentir o cheiro de sua pele (às vezes mato a saudade cheirando uma camisa que ele tinha usado dois dias antes do acidente), sem sentir seus beijos me acordando todas as manhãs, sem receber todas as noites um "Boa Noite, meu Bb! Te amo bem muitão, viu?". São tantas coisinhas que aconteciam diariamente e tão frequentemente. Coisas que pareciam tão pequenas, mas que hoje deixaram um buraco enorme no meu dia. É muito difícil me acostumar com essa nova realidade. Muito difícil mesmo.

Há dias em que até suporto bem a dor. Brigo muito comigo mesma para não me deixar levar por esses sentimentos negativos. E faço isso ocupando minha mente com outros pensamentos. No entanto, há dias em que não consigo fugir e, então, pra aliviar a dor, eu choro, escrevo, saio para algum lugar. As pessoas me acham forte. Encontram-me e dizem: "Nossa, como você está bem!". É. Eu também me acho forte. Não achei que fosse tão forte assim. Mas a verdade é que a ferida não sarou.

E assim, desde o dia em que ele se foi, minha palavra de ordem é superação. O amor que sentia por ele ficará para sempre guardado aqui comigo. Nossos momentos juntos, idem. Mas sei que preciso colocar o barco para navegar novamente. O que vai acontecer no futuro eu não sei. Só sei que decidi viver o hoje. É esse o único dia que tenho.

Beth Amorim, 30 anos, professora, blogueira, mãe e mulher em constante superação .

3 comentários:

  1. Você é valente e sou sua fã, ler sua história me fez repensar a minha e saber que minha dor não é única nesse universo. Que Deus te cure e te liberte. Lucy.

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  2. Eu tinha lido essa matéria e achei emocionante.Superando a cada dia.Eu nem imagino isso na minha vida.

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  3. Depois de quase 6 anos encontro esse texto publicado aqui. Que surpresa! Obrigada pelo carinho. 😘

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